sábado, 27 de fevereiro de 2016

Perdi  toda a coragem

Quando te vi ao longe,
                                      acenando.

Dizendo até logo, sem saber que era

                              adeus.

Perdi toda a coragem de continuar

De prorrogar a farsa, a falsa liberdade, a falta de apego...

Ora, se não houvesse o apego, se não houvesse o fogo, se não houvesse o amor,

Não mais estaria aqui. Estátua. Cansada do repetido não, do repetido abandono.

                              adeus.

Me vou, mas não carregue a culpa.

                                                       .Culpa minha. Eu quem me debrucei nessa liberdade da qual
NÃO me libertei.

Me perdoa.

Perdoa, porque eu te fiz acreditar que alimentava o saudável. Mas minhas raízes, por mais espaçosas que sejam, possuem limites.

Um deles, acabei de alcançar.

Então perdoa, porque não posso mais crescer em seu jardim. Mas tua terra, é fértil.

E dela nascerão outras tantas árvores, com raízes menos limitadas.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

É difícil.
É difícil se manter em equilíbrio em um mundo desequilibrado como o nosso.
A esperança se esvai em um piscar de olhos.
Não me culpo por meu existencialismo e minhas crises existenciais.
É difícil se manter são diante de tanta barbárie.
É difícil se manter são.
É difícil se manter.
É difícil.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

As vezes, despimos algumas pessoas.
Tirei, por um segundo, todo o pano
Que te cobria,
Intencionada a não cobrar
Mas sim
Des-cobrir, re-des-cobrir.
Me dispus a despistar
As lembranças doídas
Que dominam sua mente e
Seu peito
Suspeito
Que eu possa ser
Posteriormente
Uma delas.
Não, não há intenção de doer,
Não há intenção de ser lembrança.
Mas, há algumas pessoas
Que nos despem
E, despida, me despeço.
Não há intenção de doer,
Mas dolorida é a sensação
De estar nua,
Crua
Tua
Enquanto o que te cobre
Ainda e até-não-sei-quando
São as doidas lembranças dela.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O não-perdão calado toma forma de angústia
O coração desabotoado é porta de visita
Recebe medos, acasos, apertos
Se força a validar o que não tem valor
Perde força em meio a tantos sufocos
A casa existe, o botão não se achou
Procura abrigo em outra pulsação
Rasga o peito gritando socorro
Socorre na noite o que não tem remédio
Remedia os laços, reforça nós
Procuro, encontro, mas se encontro corro
Me atenho ao imutável, ao tédio
Entediado percebo: estamos todos sós

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Tão rápido quanto a lua vira sol, me tornei tua.
Nua, deitada em teus lençóis brancos e paralisada por teu sorriso brando, me entreguei ao teu bel prazer.
Mas, é como diria Drummond:
"(...) o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será."
Então sossegue, Maria.
Poderão vir as bodas, assim como poderão ficar na imaginação.
Mas isso nunca foi impedimento para esse coração romântico que vos fala: independente das intempéries do futuro incerto, muito me faz feliz reservar-me toda àquele que leva consigo um pedaço de mim.
A caminhada melancólica e vertical assim o é apenas para os que não enxergam em qualquer amor sua profundidade, beleza e poder de combustível.
Que me perdoe, agora, Drummond: o amor, no escuro ou no  claro, no real ou no imaginário, na certeza ou na incerteza, não deve ser triste, não deve doer. Deve ser a coisa mais sutil e alegre, dentre todas as coisas que podemos viver.
Portanto, enquanto há essa chama sua acessa em mim, lembrarei de cada segundo e fantasiarei outros mais, com um peito lotado de barulhos e sensações inefáveis, que a mim só se traduzem em: continue amando com toda a alma, pois é razão de ser e de viver o verbo sempreamar, o verbo pluriamar.*
Nesses casos, volto a concordar com Drummond:

"(...) amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido."

"Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários."

Amemos, amemos muito. Não há salvação para nós, que não o amor.



*Além da Terra, além do céu - Carlos Drummond de Andrade.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

E guardou para si muitas palavras. Evitou o confronto, preferiu calar e chorar baixinho.
Cada frase que não dizia era um nó na garganta. De tanto nó, quebrou-se o nós.
O não dito se acumula, vai lotando o peito, a boca, a alma. Entristece, enraivece, enlouquece.
Mas nosso corpo e nosso espírito tem um limite não muito grande no que se refere a isso.
Cabem, em nós, poucas dessas amarguras do eu-deveria-ter-dito-isso. A gente incha, infla, lota, transborda.
E num momento qualquer, despretensioso, numa tarde fria, a gente explode. E por vários e longos minutos, diz palavra por palavra, dessas que a gente tanto calou. Parece que perdemos momentaneamente o auto controle e elas simplesmente pulam da boca. Com o perdão da expressão, a gente vomita tudo o que engoliu à força.
E se sente, em certa medida, leve. E essa leveza é essencial para não morrer afogado por letras impedidas de sair. A grande questão é: quando a gente engole, acumula e explode, não seleciona e não controla as sentenças. Sai tudo misturado, com pitadas de raiva, tristeza e decepção - inclusive consigo mesmo.
Não há tempo de digerir antes de colocar pra fora. As chances de mágoa são aumentadas exponencialmente. Portanto, um conselho amigo de quem muito guarda colóquios: mesmo quando a conversa vai doer, menos dolorida é a dor das palavras não guardadas.


Acreditem, não é pouco o número de nós que eu quebrei por achar que meu corpo absorveria o que eu precisava falar.