quarta-feira, 13 de abril de 2016

A gente não sabe o quanto as mãos precisam escrever até que falta o ar no pulmão e ele só volta com a caneta entre os dedos.
Poeta nunca serei, nem sei se quero vir a ser.
Quando leio poesia, elas são absorvidas por minha pele; cada letra vai direto para as veias. A corrente sanguínea quase entope com as vírgulas, os pontos, os espaços. Porque no silêncio também há poesia.
Quando bem colocado, aliás, o silêncio pode ser o que dá vida ao escrito.
Mas a questão é: o que leio vai direto ao coração. Eu não acredito que a gente sinta com o coração, acredito que a gente sinta com o cérebro. Quando penso em você, por exemplo, a boca abre um sorriso quase-que-automático. Ora, isso não é obra do coração, é obra do cérebro.
Mas quando eu estou envolta em seus braços, olhando em seus olhos, o processo é parecido com aquele que acontece quando leio: a vida muda um pouquinho. As coisas ao redor tomam outras formas, o pensamento tem seu fluxo alterado, as cores ficam mais intensas, algumas coisas perdem o sentido na mesma velocidade com que outras ganham, inúmeras sensações e sentimentos se debruçam sobre a pele, a barriga, a boca, a cabeça, cada célula.
Isso não é sentimento, não. Isso perpassa o sentimento. O sentimento é aquela coisa que todo mundo diz, que todo mundo acha, que todo mundo tem. O que um poema me causa é a abertura pra um outro universo, é um abraço em forma de papel, que passa os braços por meus ombros e abre minha mente. Uma expansão tão intensa que é impossível voltar ao tamanho normal. Tamanho esse que sempre parece risível quando olho pra trás, depois de um verso, um parágrafo, um livro. Ou depois de um abraço teu.
E é por isso que não quero ser poeta. E nem quero ser pra alguém o que você é pra mim.
Porque é perigoso o (seu) poder de um poeta. 
É uma expansão maravilhosa, mas sem volta.
E quando o livro se fecha ou você fecha a porta, eu fico ali, com novas palavras e novos momentos, que exigem de mim um esforço descomunal para não deixar que virem apenas memórias perdidas nesse meu eu expandido.