quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Não me declaro escritora, muito menos poetisa. 
Não escrevo por títulos, nem honorários, nem motivo quase nenhum além do fato de que escrevo para (sobre)viver.
Parece exagero, mas eu bem sei que tem gente que morre de não dizer.
Guarda, guarda, ignora, deixapralá. Mas acumula tanto, que o peito incha e explode.
Tem quem diga que é morte morrida. Eu tenho certeza que é morte não dita.
Mas tem horas que, como esta agora, eu escrevo pra fazer rodeios. Pra adiar o inadiável e sentir que, mesmo não indo direto ao ponto, pelo menos circulei o alvo. 
Quando, a título de auto avaliação, releio as palavras que joguei no papel, mesmo os textos de rodeio me fazem lembrar do que eu queria dizer. E isso, as vezes, já me basta.
Ao remeter o acontecido, o sentido, o desejado, o imaginado, ele toma forma. Um tanto quanto deformada, mas, ainda assim, se torna desabstrato. 
E, ao que tudo indica, sou boa em rodeios. 12 linhas cheias de letrinhas e nada de conteúdo.
Mas me sinto um pouco menos inchada. Menos próxima da explosão. 
Será que, quando a gente morre de morte não dita, quando viramos caquinhos, são esses caquinhos letras? Ou notas musicais, que, colocadas de forma correta na partitura, formam músicas com as palavras que engolimos? 
Será que a gente vai prum lugar cheio de espelhos e faz que nem em vida, ensaiando pra nós mesmos o que queríamos falar pros outros?
Acho que não quero saber agora, não. É por isso que escrevo. (In)cansavelmente.