Eu nunca soube quem sou. Não
entendia as minhas próprias inconstâncias por não entender seus motivos.
Não me entendia constante também.
Nada fazia muito sentido.
Agia, sentia, pensava, queria, tudo
isso sem saber o por quê.
Agia sem saber o motivo de estar
agindo, sentia sem saber o motivo de estar sentindo, pensava sem
saber o motivo de estar pensando, queria sem saber o motivo de estar
querendo. Com gerúndio mesmo, porque era exatamente assim.
Todos os conhecimentos que tinha sobre
mim mesma eram primários e encaixá-los não era possível, faltava
algo.
Por muito tempo eu me encontrei perdida
em mim mesma. Era difícil, inclusive, resolver meus próprios
problemas. Desesperador, mas eu simplesmente não sabia como fazê-lo.
E, depois de ficar a deriva em mim
mesma, percebi que era hora de ancorar. Era hora de desbravar aquele
mar gigante, aquele meu mar, e entendê-lo onda por onda.
Trabalho árduo, pesado, cansativo.
Era preciso começar lá do fundo, antes mesmo das ondas se formarem.
Era necessário saber cada detalhe de sua formação, para entender
com clareza a sua quebra.
E, calmamente, me deixando guiar pela
maré de mim mesma, hoje consigo me olhar sem me afogar em milhares
de incertezas. Hoje meu mar e sua maré não me derrubam mais. Hoje
consigo nadar em suas profundezas e ficar em pé, fincando meus pés
em areia agora familiar.